“Você acha que eu estou bêbado?”. Um vídeo que circula nas redes sociais registra uma discussão entre um médico e o paciente Felipe Gomes Hatzopoulos, de 33 anos. Ao VTV News, Felipe afirmou ter presenciado o profissional consumindo vodka antes de atendê-lo no Pronto-Socorro (PS) Central de Praia Grande, na Baixada Santista.
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública (SSP), policiais militares foram acionados via Centro de Operações (COPOM) para atender à ocorrência. No local, foram recebidos por outro médico de plantão, que informou ter comunicado o caso ao Conselho Regional de Medicina (CRM). O episódio foi registrado na Central de Polícia Judiciária (CPJ), na noite da última sexta-feira (27).
Por meio de nota, a Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM), que administra o Complexo Hospitalar Irmã Dulce, afirmou que o médico acusado foi imediatamente afastado e substituído na escala. A organização também ressaltou que o profissional não realizou outros atendimentos após identificação da conduta.
Descoberta
Felipe relatou que, ao chegar ao PS, por volta de 19h, foi até uma barraquinha próxima para comer um salgado, já que imaginava que a troca de plantão atrasaria o atendimento. Enquanto estava no local, ele observou um homem sem uniforme pedindo duas doses de vodka. “Ele parecia nervoso, tremendo e com pressa para consumir a bebida”, descreveu.
Após pagar pela vodka, o homem seguiu em direção ao pronto-socorro. Felipe não desconfiou que ele fosse médico até vê-lo, pouco depois, saindo de um consultório no hospital. O homem agora usava jaleco azul e seguia para a farmácia da unidade. “Eu fiquei olhando bem para a cara dele e falei: ‘Não acredito que esse cara é médico’”, descreveu o mecânico.
Intrigado, Felipe pediu a outro paciente que verificasse se havia um copo no consultório de onde o médico havia saído. Quando teve a confirmação, ele decidiu investigar mais de perto e gravou um vídeo enquanto examinava um copo Stanley (assista acima). Ao abri-lo, percebeu um forte cheiro de vodka. “O copo escapou e parte do líquido caiu em outro paciente”, contou.
Discussão
Segundo o mecânico, o cheiro de álcool chamou a atenção de outros pacientes no corredor e gerou confusão. Felipe fechou o copo, colocou-o sobre a mesa e procurou a administração do hospital. Conforme relatado à reportagem, a chefe do setor administrativo foi chamada ao local e confirmou o odor de vodka.
Nesse intervalo, o médico voltou ao consultório e tentou descartar o líquido na pia – atitude registrada por Felipe em vídeo, que gerou ainda mais indignação. O vídeo cedido ao VTV News mostra o momento de discussão entre eles. Na ocasião, o médico não negou ingerir álcool. Leia o diálogo:
- Médico — Se você quiser sentar aqui para a gente conversar.
- Felipe — Não, não tem conversa.
- Médico — Não tem?
- Felipe — Compra vodka e vem atender, ó. Vem cuidar de vidas.
- Médico — Eu tô bêbado para caramba.
- Felipe — Não importa
- Médico — Eu tô chamando você pra conversar.
- Felipe — Eu não tenho o que conversar.
- Médico — Mas você acha que eu tô bêbado?
- Felipe — Tu vai me atender, cara. Tu vai cuidar da minha vida e da vida de todo mundo que tá aqui. Da vida de todo mundo.
- Médico — Você acha que eu tô bêbado?
- Felipe — F*da-se se você está bêbado ou não.
Felipe também enviou os registros para sua esposa, que acionou vereadores e a Polícia Militar (PM). Márcio Castilho (União Brasil) e Anderson Martins (Podemos) foram ao hospital para auxiliar os pacientes na denúncia.
Denúncia
De acordo com Felipe, a administração inicialmente escondeu o médico no terceiro andar do hospital. Ele foi apresentado à Polícia Militar apenas após a chegada de um sargento. “Eles estavam tentando encobrir a situação, mas com a pressão, tiveram que mostrar o médico”, afirmou o denunciante. A defesa do médico não foi localizada até a publicação desta reportagem.
Felipe também destacou que, apesar do grande número de pacientes no corredor, poucos se dispuseram a testemunhar oficialmente. “Muitas pessoas ficaram com medo de se envolver, mas algumas confirmaram a situação ali no momento”, disse. Apenas um casal prestou apoio direto à denúncia.
Segundo a PM, a ocorrência foi registrada como “não criminal” pela Polícia Civil. O delegado responsável alegou que não havia material alcoólico para comprovar a acusação. A SSP ainda confirmou que o Conselho Regional de Medicina foi acionado para investigar o comportamento do profissional.
Já a Prefeitura de Praia Grande confirmou, em nota, o afastamento do médico, que é terceirizado e contratado pela SPDM, gestora do PS Central. O município garantiu que a medida “não afetou os atendimentos da unidade e que o caso segue sendo apurado administrativamente”.