Naquela madrugada, três pessoas cruzaram a mesma porta, mas apenas duas saíram andando. O comerciante Igor Peretto foi morto a facadas no apartamento da própria irmã, em Praia Grande, na Baixada Santista. Nove meses depois, presa preventivamente, Marcelly Peretto quebra o silêncio: diz que não matou, nega qualquer envolvimento amoroso com a viúva e afirma que o cunhado, Mário Vitorino, agiu ‘sozinho e por medo’.
Em entrevista a um programa de TV, ela rebateu as acusações que a colocam como coautora do crime. “Falam que eu tive participação, eu não tive participação de nada”, declarou. Segundo ela, Mário não agiu por ciúmes ou dinheiro, como aponta a denúncia, mas por impulso, após ser ameaçado de morte por Igor – o próprio cunhado e organizador de uma festa que antecedeu o crime.
Apesar da defesa, o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) sustenta a tese de que o assassinato foi premeditado pelo trio composto por Marcelly, Mário e Rafaela Costa da Silva (veja abaixo quem é quem). Desde setembro de 2024, os três estão presos preventivamente. Conforme noticiado anteriormente, o caso ganhou repercussão nacional por envolver desavenças familiares, supostos conflitos passionais e interesses financeiros.

O que aconteceu antes de Igor Peretto ser assassinado?
Ao jornalista Reinaldo Gottino, da TV Record, Marcelly relatou que, horas antes do crime, ela e Rafaela foram a um bar em Santos. Lá, beberam e decidiram seguir para uma confraternização de futebol no bairro José Menino, em Santos, organizada pelo próprio Igor. “A gente começou a beber, usar droga. Depois dali, umas 4h30, a Rafaela me chamou para ir embora”, contou.
Segundo Marcelly, todos estavam presentes na festa: ela, Rafaela, Igor e até Maurício Peretto, outro familiar. Quando ela e Rafaela deixaram o local, seguiram para o apartamento. Rafaela teria permanecido no imóvel por apenas cinco minutos e saído sozinha. Minutos depois, Igor e Mário chegaram – já em meio a uma acalorada discussão.
“O Igor estava furioso, batendo na mesa, me questionando por que a Rafaela tinha ligado para o Mário”, lembra Marcelly. “Como eu vou saber? Eu estava dentro do apartamento.” A discussão escalou rapidamente. Igor começou a xingar Mário, ligou para Rafaela e, de acordo com Marcelly, passou a ameaçar o cunhado de morte por ciúmes da relação com a viúva.
Triângulo amoroso e suposta traição: por que Igor Peretto e Mário Vitorino brigaram?
A briga entre Igor e Mário teria começado ainda dentro do carro. Segundo a investigação, foi ali que o comerciante morto descobriu a suposta traição: durante o trajeto, uma ligação de “Rafaela Cunhada” apareceu no painel do sistema CarPlay. A chamada acendeu um alerta e, imediatamente, Igor exigiu explicações do cunhado.
Mário contou às autoridades que Igor ficou exaltado com o que viu. A discussão esquentou ainda no banco do passageiro, com xingamentos e ameaças. Segundo o depoimento, Igor ordenou que o levasse até o apartamento da irmã, Marcelly, para tirar satisfações e confrontar todos os envolvidos.
Foi nesse contexto que os três voltaram a se encontrar: o marido, a esposa e a viúva. Minutos depois de chegar ao prédio no Canto do Forte, por volta de 5h42, Igor já discutia com Mário, batia na mesa e gritava. Segundo Marcelly, o irmão estava fora de si, ameaçava o cunhado de morte e ligava sem parar para Rafaela. Pouco depois, Igor estaria morto com 11 facadas.

Marcelly presenciou o assassinato do irmão, Igor Peretto?
Marcelly diz que saiu do quarto onde estava deitada para se trocar, e que antes disso viu Igor quebrando um espelho e gritando com Mário. A irmã da vítima afirma que, ao retornar, viu apenas a cena já consumada, Mário saindo de cima de Igor. “Eu não cheguei a ver o Mário esfaqueando ele”, garantiu.
Ela também afirma ter sido arrastada pela adrenalina e saído do local junto com Mário. “O Mário falou: ‘Vem comigo’”, contou. Marcelly diz que entrou no carro sem saber que o irmão estava morto e só descobriu o desfecho mais tarde, ao ouvir o próprio autor contar o que havia feito. “Mário se sentiu ameaçado. O Igor disse que ia matar ele”.
Mário Vitorino, Marcelly Peretto e Rafaela Costa viviam um relacionamento a três?
Um dos pontos mais falados no processo é a suposta relação poliamorosa entre Marcelly, Rafaela e Mário. Mas a acusada nega com veemência. “Nunca fiz parte de trisal. Tenho nojo desse papo”, rebateu. Apesar da negativa, Marcelly admitiu que já ficou uma vez com a viúva do irmão. “Mas nunca tivemos uma relação. Foram oito anos de convivência e respeito”, disse.
A defesa, representada pelo advogado Leandro Weissmann, reforça a versão de que Marcelly não teve participação no crime. “As provas do processo mostram isso”, disse o advogado à TV Record.

Tiago Peretto reage, chama irmã de mentirosa e esfaqueia melancia para simular assassinato
O vereador Tiago Peretto (União Brasil), irmão do comerciante assassinado, fez uma transmissão ao vivo nas redes sociais para rebater a entrevista da irmã, Marcelly Peretto. Durante a live, Tiago afirmou que vai lutar até o fim para que Marcelly e os demais envolvidos no crime sejam condenados.
Tiago disse que envelheceu dez anos em dez meses por conta da dor e do estresse, mas que não vai desistir de buscar Justiça. “Se eles não forem condenados, eu não acredito mais em nada”, declarou o parlamentar. Ele também acusou a irmã de mentir na entrevista e de ter fugido com o namorado, Mário, logo após o crime.
Tiago ainda fez uma encenação com uma faca e uma melancia para simular o momento em que o irmão foi morto. Segundo ele, Marcelly estava a poucos metros do local do assassinato, viu Igor agonizando e não fez nada para ajudar. “Ela trancou a porta e fugiu. Essa é a verdade. Minha luta é por Justiça, não é mídia, não é conversa fiada”, disse. O posicionamento ocorreu na noite de terça-feira (1°).
Caso Peretto pode ir a júri popular
A terceira e última audiência de instrução foi concluída no dia 16 de junho, às 20h, com os interrogatórios dos três réus e das últimas testemunhas. O processo entra na reta final, com a entrega das alegações finais pelas defesas e acusações à Justiça. A partir daí, será decidido se o trio irá ou não a júri popular.
Segundo o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), as partes tiveram dois dias para solicitar diligências complementares. Se não houver novos pedidos, o juiz poderá proferir a decisão de pronúncia, que encaminha ou não o caso para julgamento pelo Tribunal do Júri. A defesa ainda poderá recorrer, o que pode adiar uma eventual data do julgamento.
O VTV News entrou em contato com a defesa de Marcelly Peretto, mas não obteve retorno até o momento de publicação desta reportagem. O texto, portanto, poderá ser atualizado e o espaço segue aberto para manifestação.