As ondas do mar, quando quebram sobre recifes de coral ou rochas no fundo do oceano, geram correntes ainda mais rápidas e intensas. Estamos falando de Reefbreak – termo bastante conhecido entre os surfistas. Desta forma, também pode-se classificar a trajetória da banda homônima, formada em 2014 na Baixada Santista.
Desde os primeiros acordes, o trio, composto por Brunno Norgini, Rafael Labate e Renato Vacones, tem surfado pelas ondas da música independente, conquistando o público com uma mistura única de reggae, ska e MPB.
Ao longo dos anos, a Reefbreak tem ampliado público não apenas pelas apresentações enérgicas, mas também pelas composições autorais que refletem vivência e personalidade dos integrantes.
Sim, a trajetória é marcada por desafios, mas também por conquistas. Se trata da história de três amigos unidos pela paixão musical e pela busca de uma conexão genuína com os fãs. “A amizade sempre prevaleceu”, disse Brunno Norgini, vocalista e compositor do grupo, em entrevista ao VTV News.
‘Não deixar de viver’
Imagine um videoclipe com cenas na praia do Jardim Suarão, em Itanhaém (SP), e em Cartersville, Geórgia, nos EUA? As paisagens podem parecer distintas – e são – mas, acredite: elas se conectam de forma quase imperceptível. Este é o cenário da música Eu Vejo o Mar, parte do álbum Renovar, lançada em 12 de dezembro, que descreve superação, esperança e conexão com a vida.
Mesclando poesia e realidade, a faixa traz reflexões sobre o poder do tempo e a importância de seguir em frente, mesmo diante das dificuldades. Também repetem “não deixar de viver” entre os versos, quase como um mantra. Quanto ao processo criativo… natural e genuíno! É assim que o Brunno classifica a produção.
Para atingir o resultado, a captação de imagens nos Estados Unidos ficou a cargo de Marina Labate, enquanto no Brasil, o assistente de imagem foi Rafael Evangelista, responsável pelas filmagens aéreas com drone. O trabalho foi coordenado por uma equipe talentosa, com direção de imagem de Marquinhos Costa e a edição do baterista Rafael Labate, que também assinou a produção do vídeo através da Lab Produz Filmes.
Já Renato foi o produtor executivo: escreveu o projeto, captou recursos e contratou a equipe. Toda a produção audiovisual foi realizada com o apoio da Lei Paulo Gustavo (LPG), viabilizada por meio do edital 003/2023 da Prefeitura de Itanhaém, que destinou R$ 5.000,00 para o projeto.
“O processo de fomento da cultura local, além da geração de emprego e renda, é fundamental para o fortalecimento da identidade cultural, ponto crucial para municípios que têm a cultura, a história e o turismo no DNA”, afirmou o secretário adjunto de Educação, Cultura e Esportes, Tony Sheen, em nota.
‘Acreditei, vivi, chorei, sonhei, mas não parei’
A história da Reefbreak começou nos bares da Baixada, onde Rafael Labate, já acostumado a tocar com diversos grupos, era figura constante. Foi nesses espaços que ele e Brunno Norgini começaram a se aproximar musicalmente, realizando shows juntos e compartilhando composições próprias.
Brunno, vindo do futebol e do skate, se diferenciava de Rafael e Renato Vacones, que carregavam a essência do surf. No entanto, sempre esteve ‘ligado à galera do reggae e do skate’, o que facilitou a fusão de influências e estilos.
E a conexão foi instantânea. O álbum Meu Quintal, lançado em 2016, marcou o início da jornada que viria a consolidar o grupo como um dos destaques da música independente regional, com oito faixas que refletem a identidade do trio. O disco abriu portas para novos projetos e mostrou que tinham muito mais a oferecer.
Para Brunno, a música vai além de ser apenas uma carreira: ela é uma ferramenta de expressão e libertação. A relação entre os membros da banda, segundo ele, é sustentada pela amizade, que prevaleceu mesmo diante dos desafios impostos pelo tempo e pela distância.
Conciliar os projetos pessoais de cada integrante com os compromissos da banda, no entanto, não foi tarefa fácil, especialmente considerando o investimento financeiro significativo na produção de músicas e shows.
Responsável pelo controle administrativo, Renato Vacones destacou que o maior desafio foi (e é) atrair mais interesse do público e alcançar uma produção cada vez mais sólida e efetiva. Apesar disso, ele sente satisfação em criar e lançar produtos culturais; algo que, segundo ele, “vai estar ali para sempre”.
‘Minha missão é ver o sol nascer’
Rafael Labate, que sempre trabalhou com áudio e mantinha um estúdio caseiro em Praia Grande, na Vila Caiçara, decidiu se mudar para os Estados Unidos junto com sua esposa. O desejo de viver no exterior e proporcionar uma vida mais estável para a família os levou a Acworth, uma cidade da região metropolitana de Atlanta, na Geórgia, onde já tinha parentes.
“Queríamos a experiência de morar fora e ter filhos sem tantas complicações econômicas. Acabamos vindo, e aqui tivemos dois filhos”, conta. Nos Estados Unidos, além de continuar sua trajetória musical, ele encontrou uma nova paixão e profissão: tornou-se tatuador, equilibrando a arte da pele com sua dedicação à Reefbreak.
Hoje, mesmo com Rafael morando fora, a Reefbreak continua unida, superando barreiras geográficas e mostrando que a paixão pela música é maior do que qualquer obstáculo. Aliás, mesmo a milhares de quilômetros de distância, seguem encontrando na música um ponto de encontro.
Rafael Labate, além de baterista, é tatuador e produtor musical autodidata. Ele compartilha sua visão criativa, enfatizando como a produção musical é uma extensão de seus sentimentos e vivências. “A produção musical é uma forma de expressar o que sentimos. Um áudio ruim pode se transformar em algo incrível, e é isso que me atrai na música”, explica.
Inovadora, a abordagem – somada à experiência adquirida ao longo dos anos -, tem sido importante para novos projetos, como o clipe de Desigual, que está por vir, e shows promocionais que divulgarão o álbum.
‘O mundo é cheio de maldade, eu sei’
Além da musicalidade vibrante, carregam o compromisso com a inclusão e a diversidade, valores que se refletem em cada projeto que desenvolvem.
Há dançarinos internacionais e a participação especial de Estela Picon, intérprete de Libras, no vídeo. Assim, ele se transforma em um espaço de celebração das diferenças e da pluralidade cultural.
Para a banda, a inclusão não é apenas uma temática transitória, mas um propósito contínuo que guia suas composições e ações. “Nosso objetivo é sempre levar a mensagem de inclusão adiante”, afirma Rafael.
Eles já haviam abordado a temática em 2022, no clipe da faixada Berorrampa, também presente no álbum atual, em uma homenagem ao surfista bi-amputado, Victor Iglesias, que faleceu em janeiro deste ano. Iglesias pegou ondas e se divertiu com os amigos, em um grande ato de acessibilidade e respeito às diferenças.
Os valores destacam como a arte da Reefbreak não se restringe às produções musicais – isto é, criam conexões profundas entre os fãs e os valores que a banda defende. Seja nos palcos ou nos bastidores, o trio busca impactar positivamente a vida das pessoas, utilizando sua plataforma para promover respeito e empatia.
Saiba mais sobre a Lei Paulo Gustavo
A Lei Paulo Gustavo (LPG), aprovada em 2022 e regulamentada em 2023, destina R$ 3,8 bilhões para o fortalecimento da cultura no Brasil, com R$ 2 bilhões para estados e R$ 1,8 bilhão para municípios. O objetivo é impulsionar projetos culturais, criando emprego e promovendo a democratização do acesso à arte.
Em seu primeiro ano de execução, a LPG já investiu R$ 782 milhões, com destaque para o audiovisual e outras áreas culturais, beneficiando artistas e produtores em todo o país. A lei visa, ainda, descentralizar recursos e estimular a economia criativa local, com foco na inclusão e diversidade, segundo o Ministério da Cultura (MinC).