Eles marcavam encontros, ganhavam a confiança das vítimas e, no momento certo, transformavam romance em terror. Dois homens, de 34 e 37 anos, foram presos acusados de liderar uma rede criminosa que usava aplicativos para roubar, extorquir e enganar pessoas, principalmente da comunidade LGBTQIAPN+. O caso ocorreu em Guarujá, na Baixada Santista.
A dupla foi identificada como Yuri Phelipe Nobre Pereira e Wesley Nicolas Alves de Sousa. De acordo com a Polícia Civil, eles atraíam vítimas pela internet por meio de aplicativos de locação e relacionamento. A prisão aconteceu após dois meses de investigação conduzida pela Delegacia Sede de Guarujá, com base nos relatos de ao menos quatro pessoas.
Em entrevista à VTV, emissora afiliada do SBT, o delegado Glaucus Vinícius Silva explicou ao repórter Fernando Degaspari que Yuri costumava marcar encontros com homens pelo aplicativo. No local combinado, ele aparecia com uma pistola falsa, rendia as vítimas e roubava seus pertences mediante ameaças. Em seguida, desaparecia sem deixar rastros.
Vítimas eram escolhidas em aplicativos de relacionamento gay
Segundo a polícia, Yuri usava fotos e vídeos compartilhados pelas vítimas nos aplicativos para fazer novas ameaças pela internet. “Ele escolhia cuidadosamente o perfil das pessoas para ter poder de extorsão e humilhá-las. É um camarada sórdido”, afirmou o delegado. Em mensagens obtidas pela reportagem, é possível ver parte das intimidações (veja abaixo):

Em um dos episódios, Yuri chegou a algemar um homem para impedir qualquer reação. Mas, em outros casos, ele adotava métodos menos violentos para aplicar os golpes. “Quando percebia que a vítima não ofereceria resistência, ele seduzia a pessoa, mantinha relações e, depois, tomava os pertences, ameaçando expor o encontro nas redes sociais”, explicou.
As investigações também revelaram que Yuri atuava como o “braço executor” do esquema, enquanto Wesley era responsável pela parte documental e financeira dos crimes – o planejamento. Os mandados de prisão temporária foram cumpridos na terça-feira (1º), em uma pousada alugada pelos suspeitos. No momento da abordagem, os dois confessaram os crimes. O VTV News não localizou a defesa da dupla até a publicação desta reportagem.
Dupla também teria aplicado golpes imobiliários
Além dos golpes amorosos, a dupla também aplicava fraudes no mercado imobiliário. Eles alugavam grandes imóveis, como pousadas, mas não pagavam aos proprietários. Depois, sublocavam os espaços para temporadas curtas e ficavam com todo o dinheiro. “Quando percebiam que poderiam ser denunciados ou processados, simplesmente abandonavam o local”, contou o delegado.
A polícia conseguiu ligar os dois tipos de crime porque Yuri levava algumas vítimas dos aplicativos de relacionamento para os endereços onde ocorriam os golpes imobiliários. Agora, a equipe trabalha para identificar outras possíveis vítimas. Com a quebra do sigilo dos celulares apreendidos, surgiram indícios de fraudes aplicadas também no interior de São Paulo.
Por fim, o delegado fez um alerta sobre o uso de aplicativos e redes sociais. “Marcar encontros pela internet pode ser muito perigoso. É preciso ter cuidado com a exposição de dados”, orientou. Segundo ele, Yuri e Wesley estavam cada vez mais agressivos. “Se não fossem presos agora, provavelmente não demoraria para ocorrer uma morte. Eles demonstram extrema periculosidade”, concluiu.