Ser apenas um estudante universitário já seria admirável para Matheus Martins Café Santana, de 22 anos, morador de Santos, na Baixada Santista. Mas ele decidiu ir além das salas de aula. Reeleito presidente do Centro dos Estudantes de Santos e Região (CES), ‘Café’ lidera uma entidade com 93 anos de história, dedicada a transformar desafios em oportunidades e a dar voz às demandas por justiça social e educacional.
Em entrevista ao VTV News, Matheus conta que sua relação com a organização começou ainda no ensino médio, quando participou do grêmio estudantil e da União Municipal dos Estudantes Secundaristas (UMES). “Conheci o movimento estudantil discutindo o papel dos jovens nas eleições municipais de 2020. Desde então, soube que queria fazer parte disso”, afirma o jovem, atualmente estudante de Letras no Instituto Federal de São Paulo (IFSP), em Cubatão.
Ele não brinca em serviço. De lá para cá, tem trilhado um caminho repleto de obstáculos e conquistas, sempre movido pelo desejo de mudar a realidade ao seu redor: lidera debates, promove ações de conscientização e resgata espaços antes negligenciados. “Trata-se de criar oportunidades para aqueles que, muitas vezes, não têm voz”, enfatiza o presidente do CES. Ele vê no movimento estudantil uma ferramenta para renovação.

O que é o CES?
Fundado em 1932, o Centro dos Estudantes de Santos e Região nasceu com a missão de mobilizar estudantes do ensino superior para defender e aprimorar a educação regional. Atuando de forma independente e sem fins lucrativos, reúne universitários dispostos a garantir direitos e promover educação gratuita e de qualidade (veja abaixo as principais pautas):
- Aumentar vagas para estudantes de baixa renda em universidades públicas;
- Garantir ensino de qualidade e menos dependência do EAD em cursos presenciais;
- Melhorar o transporte fretado e assegurar passe-livre estudantil nas cidades do litoral de SP como permanência estudantil;
- Facilitar a transição ao mercado de trabalho.
Prestes a se tornar professor, Matheus diz que o CES é uma entidade com propósito bem definido, uma vez que inspira estudantes a enfrentarem desafios em busca de mudanças reais. “Quando vemos uma saída, uma possibilidade de mudança, percebemos que todo esforço vale a pena”, reflete o presidente.

Congresso do CES
Matheus Café já era presidente do CES, eleito pela primeira vez em 2023, após anos de baixa atividade da entidade devido à pandemia. No congresso realizado na Universidade São Judas, em 21 de junho, a chapa ‘Da Unidade vai Nascer a Novidade’ – composta por alunos de diferentes universidades locais – foi eleita de forma unânime entre os estudantes presentes.
Além dos integrantes da gestão, o CES conta com apoio de uma rede de lideranças regionais que promovem campanhas, debates e iniciativas sociais. Um dos marcos recentes foi o lançamento do plebiscito popular, com foco na taxação de grandes fortunas e isenção de impostos para salários de até R$ 5 mil. A meta é coletar 16 milhões de assinaturas para pressionar o Congresso Nacional.
A entidade também resgata tradições importantes, como a manutenção da sede física do CES, localizada na Avenida Ana Costa, em Santos, e a reativação de atléticas, diretórios e centros acadêmicos nos campus (veja as diferenças abaixo). “Conseguimos reativar o diretório acadêmico da Fatec Rubens Lara, que estava inativo há anos”, relembra Matheus. A sede, por outro lado, foi comprada há cerca de 70 anos, mas “tomada durante o período de ditadura militar”.
- Atlética: organizações estudantis que promovem atividades esportivas e recreativas, além de festas e ações de integração nas universidades.
- Diretório Acadêmico (DA): entidades que defendem os direitos e interesses dos estudantes de um curso ou mais, atuando em questões acadêmicas e políticas. Também organizam eventos culturais e representam os alunos em debates com a instituição.
- Centro Acadêmico (CA): Similar ao DA, mas geralmente com foco exclusivo em um curso específico. Representa os alunos nas decisões do curso e promove atividades para integração e desenvolvimento acadêmico.
Eleição e expectativa
Para um bom membro do CES, são necessárias dedicação e resiliência. Sabendo disso, o futuro professor divide o tempo entre estudos e a liderança estudantil, e pode destacar o valor do comprometimento coletivo.
“Nós, jovens no movimento, nos colocamos como contrapontos, dialogando com a sociedade sobre o Brasil que queremos. Tudo o que temos foi conquistado por outros estudantes organizados. Fazer parte disso é retribuir e construir algo maior”, reflete.
Segundo o presidente, a nova gestão será estruturada em três frentes para ampliar a atuação e explorar novas pautas. Além dele, a chapa já conta com Mateus Pinheiro (Fatec PG), Amanda Grogia (Universidad São Judas), Thamyres Olympio (Unifesp), João Cardote (Universidade Católica de Santos), Laura Bueno (Unifesp) e Pedro Sampaio (IFSP). Outros integrantes devem ser anunciados nesta semana, nas redes sociais do CES.